sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Filho relata o drama do comerciante morto em "jaula" na cidade de Barra do Corda 


O comerciante Francisco Edinei Lima Silva, dono de uma vidraçaria em Barra do Corda (MA), não teve acesso nem a um copo de água durante as dezoito horas e quarenta minutos que esteve preso dentro de uma "jaula" no pátio da delegacia.
De acordo com a família, mesmo reclamando de mal-estar e chorando bastante Edney, como era chamado pelos amigos, foi mantido na "jaula" sem nenhuma assistência.
"Mataram o meu pai", disse o filho do comerciante, que não terá o nome revelado por ser menor de idade. "Meu pai pedia água e negaram", disse o rapaz de 17 anos.
Francisco, que não tinha antecedentes criminais, foi preso no domingo (8) após se envolver em um acidente de trânsito, quando saiu de casa para comprar carvão para um churrasco. O carro que ele dirigia bateu em uma moto.
O dono da moto foi hospitalizado e Francisco também passou por atendimento médico em um UPA (Unidade de Pronto Atendimento). 
O acidente de trânsito aconteceu por volta das 11h. A prisão do comerciante foi às 14h. Na manhã do dia seguinte, por volta das 8h40, ele foi retirado da jaula com convulsões e levado novamente para a UPA, mas não resistiu e morreu.
De acordo com a polícia, no exame feito na UPA, no dia do acidente, foi constatada a embriaguez do comerciante, por isso, ele foi levado à delegacia pelos PMs e um inquérito foi aberto. Na delegacia, ele foi colocado na "jaula", que não tem teto e fica exposta ao sol, que nesta época do ano chega 40° na região. "Ele já estava muito mal quanto levaram ele da UPA para a delegacia", contou o menino.
O delegado regional Renilton Ferreira afirmou em entrevista concedida a blogueiros da cidade que o procedimento adotado pelo delegado Marcondes, plantonista que fez a prisão, foi o correto.  "Vou abrir um inquérito para investigar a morte do Francisco. Até o momento, não vislumbro nenhuma atitude irregular dos policiais de plantão, não quer dizer que não possa ter ocorrido, isso será levantando durante a investigação e com o resultado da perícia", disse o delegado.
Ferreira comentou que a jaula é o local costumeira utilizado para deixar as pessoas detidas pela PM que serão atuados por prisão em flagrante. "Na delegacia tem uma cela interna onde ficam de 20 a 30 presos de justiça, alguns até ja condenados que aguardam vaga em presídio. Não seria correto deixar na mesma cela alguém que acaba de chegar à delegacia com o flagrante ainda a ser apurado", comentou.
No entanto, a "jaula" não tem banheiro e nem local onde o preso possa dormir. Ferreira disse também que não era alçada do delegado plantonista liberar o comerciante. "Como o exame médico apontou um alto índice de embriaguez, o delegado de plantão entendeu quer era caso de direção sob efeito de álcool, que tem pena de três anos prevista no Código Penal, e também lesão corporal culposa  [sem intenção] no trânsito, cuja pena é de dois anos. A soma das penas dos crimes  atribuídos é de cinco anos, então não cabe ao delegado determinar um valor de fianças ou conceder a liberdade. A decisão, neste caso, é da Justiça", disse.
Madrugada
A família relata, nas redes sociais, que o comerciantes passou a noite reclamando de mal-estar. Apenas por volta das 5h, uma investigadora de plantão foi até a jaula para levar mais um preso acusado de porte de arma. Mas ela não deu nenhum tipo de assistência ao Edney.
Para o advogado Abdon Marinho, o modo como o comerciantes foi mantido encarcerado é uma violação dos Direitos Humanos. "Não considero razoável que coloque alguém numa jaula – só o termo já é ofensivo – e lhe negue até água, apesar dos apelos dos familiares", disse. 
— [vilou] Não só os Direitos Humanos como o direito dos animais e todo ser vivo.
Jaula não tem cama e nem banheiro
Os exames no corpo do comerciante para determinar a causa da morte foram feitos no IML (Instituto Médico Legal) de Teresina. O delegado Ferreira não informou quando deve sair o resultado.
O R7 questionou a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão sobre a morte do preso dentro da delegacia em Barra do Corda e se existem outras "jaulas" como essa no estado.  A secretaria não respondeu.

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